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"Olhe estes olhos. Escute esta voz. Toque este cabelo. Agarre este corpo. Destrua este coração."

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Tic- Tac

Tic-Tac. Tic-Tac. Silêncio.
Levantei meu olhar para a parede em minha frente. O maldito relógio que coordenava (melhor, descoordenava) minha vida, estava parado novamente. E de novo ele mantinha seus ponteiros nas malditas 16h59. Olhei para a pilha de trabalho acumulado em minha mesa, xinguei, suspirei e mais uma vez, levantei-me para tentar consertá-lo.
Peguei o da parede, o abri e olhei cada engrenagem como se entendesse exatamente o que estava fazendo. Não entendia. Recoloquei suas peças no lugar, o fechei e fiquei ali olhando para ele. Era um relógio de bolso antigo de ouro branco. Devia ter seus cinquenta anos, então seria normal que parasse um dia. Como não poderia mais usá-lo no meu bolso nos dias atuais, decidi que permaneceria na minha parede até que um dia ele parasse. E ultimamente ele vinha falhando sempre no mesmo horário, ás 16h59. Era como se os ponteiros fossem pesados demais para suas engrenagens levantá-los novamente até o próximo quadrante do relógio. Bom, pelo menos era o que eu achava. Muito provavelmente eu estava errado. Mas só teria certeza no outro dia. Retornei ao trabalho acumulado, comi, dormi e sonhei com relógios e engrenagens.
Acordei no dia de hoje com o corpo pesado. Passei pela mesa, vi o relógio e pela primeira vez em anos o abriguei no bolso do paletó. Foi um dia comum o dia hoje, trabalho pela manhã e pela tarde. Mas por problemas no escritório saí mais cedo. Resolvi então que iria procurar um relojoeiro.
Entrei no meu carro na tarde de hoje com meu relógio no bolso. Dirgi por alguns minutos. Uma música aleatória tocava no rádio. Ela acabou. Silêncio.
Tic-Tac. Tic-Tac.
Eu descuidadamente tirei meus olhos da estrada e busquei o relógio no bolso, para ter certeza de que ele voltara a funcionar.
16h59.
Tic-Tac.
17h.
Um baque forte. Sons metálicos. Escuridão.

"Dizem que o verdadeiro relógio é fiel ao seu dono como um cão. Tanto que falha momentos antes de sua morte, e morre juntamente com o dono."