Entrou pela minha janela, atravessou as grades e, molhado da chuva, sussurrou:
-Dá-me abrigo por hoje, sim?
-Sim -Sussurrei também.
-Como te chamas?
-Clara, me chamo.
-Olá, posso eu chamar-te assim também?
-Sim, faça sua vontade.
-Clara... Olá. Sou o espectro.
-Por que na chuva?
-Por falta de dor. A dor me alimenta, onde está a sua dor?
-Está ali, encolhida. vê?
-Sim, vejo. Permitiria devorá-la?
Doeu-me um pouco a idéia de deixá-la ir, Seria ela lutando contra a morte iminente? Permiti ao espectro que se servisse de minha dor. Ele a devorou. E me senti bem com isso, calma, serena. A dor foi embora, só ficou o espectro.
Ele passou o resto da noite me ninando com canções calmas, guiando meus sonhos para longe dos pesadelos, e foi-se embora ao mínimo sinal da luz da manhã.
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