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"Olhe estes olhos. Escute esta voz. Toque este cabelo. Agarre este corpo. Destrua este coração."

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Espectro da noite.

Ontem, do meio da chuva, no começo do meu sono, durante o som de um raio, ele chegou.
Entrou pela minha janela, atravessou as grades e, molhado da chuva, sussurrou:

-Dá-me abrigo por hoje, sim?
-Sim -Sussurrei também.
-Como te chamas?
-Clara, me chamo.
-Olá, posso eu chamar-te assim também?
-Sim, faça sua vontade.
-Clara... Olá. Sou o espectro.
-Por que na chuva?
-Por falta de dor. A dor me alimenta, onde está a sua dor?
-Está ali, encolhida. vê?
-Sim, vejo. Permitiria devorá-la?

Doeu-me um pouco a idéia de deixá-la ir, Seria ela lutando contra a morte iminente? Permiti ao espectro que se servisse de minha dor. Ele a devorou. E me senti bem com isso, calma, serena. A dor foi embora, só ficou o espectro.
Ele passou o resto da noite me ninando com canções calmas, guiando meus sonhos para longe dos pesadelos, e foi-se embora ao mínimo sinal da luz da manhã.

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