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"Olhe estes olhos. Escute esta voz. Toque este cabelo. Agarre este corpo. Destrua este coração."

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Crônicas de Pandora: Titulo I

Até mesmo os barulhos do dia-a-dia, que normalmente se fazem altos, aquela noite estavam histéricos. Os alarmes dos carros doíam nos ouvidos, mais altos que nunca. As buzinas sendo tocadas infinitamente, sem pausa. As gotas de chuva nos vitrais da Igreja não perdiam em nada para o som de balas. Os sinos, os sons que Pandora mais precisava ouvir, eram os únicos calados. E era esse silêncio em especial o que mais doía. Pandora correu para fora da igreja, para o meio da chuva bruta. Tinha um lugar que ela precisava ir.
Os 'toc-toc' dos saltos em fuga pareciam urrar desesperados. A barra do vestido, antes branca, agora tornara-se negra de lama e pressa. Ela não imaginara que as coisas tomariam tal rumo. Não imaginara que seu casamento fosse dar tão errado. Talvez acontecessem alguns imprevistos, mas o que acontecera fora um tanto imprevisto demais para Pandora. O vestido agora pesava 6 quilos de puro Cetim e chuva. Ela se amaldiçoava aos prantos por ter escolhido aquele vestido. Mas que culpa tinha ela? Nunca iria imaginar que ia acontecer o que aconteceu. Nunca mesmo. E ela se amaldiçoou mais por ter aceitado aquele presente, por tê-lo aberto, por ter ouvido um médico de loucos tão louco quanto eles. "Como eu escapei?...Não queria ter escapado!" Repetia ela para si mesma enquanto corria pelas ruas desertas. Os carros alarmavam vazios, as buzinas tocavam sozinhas, motos, ônibus, batidas... Quantas pessoas teriam sido afetadas?
Pandora estava tão perturbada que ignorou os carros, as motos, os ônibus e seguiu correndo aos prantos pela cidade fantasma. Seguiu correndo para o único lugar que poderia ter uma resposta "lógica" para tudo aquilo: Cheshire's Psychiatric hospital. Sim, um Hospício.
Pandora entrou ofegante no hospital. Estava quase vazio, mas desde que Pandora começara a trabalhar lá era assim. Apenas os médicos, funcionários, um ou dois loucos. Era assim. E estava assim quando Pan entrou. Ela olhou para a secretária Hera e se perguntou: "Por que tudo num raio de sabe-lá-Deus-quantos quilômetros foi vaporizado menos essa merda de lugar?". Dirigiu-se até a secretária prepotente e perguntou-lhe pelo Dr. Hatter, psiquiatra renomado da cidade. Hera indicou-lhe a sala e, com um sorriso perturbador perguntou: -Gostou do presente Pan? Pan olhou-a com desprezo e respondeu: - Vai pro inferno.
Pan atravessou a sala determinada, agarrou a maçaneta trêmula e entrou congelada. Dr. Hatter jazia imóvel e pálido como um mármore sobre a mesa. Estava vendado, com uma adaga enfiada na cabeça, morto.
Pálida, Pan notou que sobre a mão do médico havia um papel com os dizeres:

"Você não deveria ter aberto a caixa, Pandora.
Hatter."

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