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"Olhe estes olhos. Escute esta voz. Toque este cabelo. Agarre este corpo. Destrua este coração."

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Crônicas de Pandora: Titulo II

Pedro corria pelas ruas estreitas do subúrbio da ala leste de Wonders. A arma no cós da calça não ajudava na corrida, mas ajudaria se precisasse parar de correr. Os gritos e passos dos guardas da marinha atrás dele davam uma espécie de força pra que ele aumentasse a velocidade e sumisse da vista deles. Subiu uma escada de emergência e sentou arfante no telhado do prédio. Ele olhou para baixo e riu consigo mesmo ao ver os guardas coçando as cabeças irritados por tê-lo perdido de vista. Roubar aqueles lençóis do Quartel da Marinha para dar aos mendigos da ala leste foi uma brincadeira que quase lhe custou o cu. Mas valeu a pena ver aquela família feliz em seu esconderijo, com lençóis novos.
Pedro encarou o céu azul por mais um tempo, olhou novamente pra baixo pra ver se os guardas já tinham ido e desceu. Ele morava do outro lado da cidade, na ala oeste, mas sempre saía do seu distrito para ajudar quem precisasse. Desde garoto ele era assim, um dos poucos humanos com algum senso de auxílio e amor pelo próximo.
Ele estava na metade do caminho quando de repente os carros nas pistas começaram a bater, capotar, parar. As motos caiam sem motoristas, e os capacetes sem cabeças pra proteger rolavam pelas pistas. Um avião desabava ao longe e um helicóptero caiu a centímetros de onde Pedro estava. Ele estava em choque. Onde estavam as pessoas que guiavam esses meios de transportes? O que diabos estava acontecendo?
As calçadas segundos antes lotadas, agora estavam vazias e frias. O silêncio das vozes fez com que Pedro se arrepiasse. As pessoas simplesmente sumiram, desapareceram no ar. Por que elas sumiram? Por que ele não sumira também? Por que os carros e motos e aviões e helicópteros não sumiram também? A cabeça de Pedro estava a mil.
Sentiu-se tonto, sentou no chão com a cabeça entre as pernas. "Quem sabe eu não estou viajando?" Pensou ele. Levantou a cabeça lentamente. Só nada. Carros batidos, incêndios e algumas pequenas explosões, mas nada de vida humana. Pedro sentiu um aperto no peito seguido de um enjôo. Sua família? Desaparecera também? Levantou-se de súbito, pegou uma moto na pista e foi pra sua casa.
Ao entrar no distrito viu alguns cavalos e sua esperança ganhou força. Talvez sua família estivesse bem, estivesse lá. Talvez não. Pedro chegou em casa, abriu a porta e Não, Nada. Em lugar algum, de modo algum. E depois de vomitar e chorar Pedro desejou ser nada, como sua família era agora.

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